Monday, October 04, 2010

DISQUINHO CINQUENTÃO

Pois é, foi em outubro de 1960 que chegaram às lojas os primeiros lançamentos do lendário selo Disquinho, produzidos e idealizados pelo igualmente lendário compositor e produtor João de Barro (1907/2006) e que revolucionaram a concepção de discos infantis no Brasil, com a novidade da prensagem em vinil colorido, justamente quando o formato de compacto em vinil de sete polegadas começava a pegar embalo no país.

Os dois primeiros lançamentos Disquinho foram A Cigarra E A Formiga e Chapeuzinho Vermelho, e o Jornal das Moças (uma revista, apesar do nome) bem observou em sua edição de 10/10/1960 quanto à adaptação de Braguinha para a primeira, incluindo um final feliz em que tanto a "riponga" cigarra quanto a "workaholic" formiga saem ganhando, uma auxiliando a outra: "João de Barro deu à formiga um quê mais humanitário, pois, em sua concepção, quem tanto trabalha não pode ser desumano. E mais: como poeta, não poderia deixar que uma cigarra, cantadeira de melodias, alegre, folgazã, não soubesse quebrar com suas canções o mais duro coração de um materialista. E o que ressalta na adaptação dese moço de cabelos brancos é vermos as formigas trabalhar alegres e mais animadas pelas canções de sua amiga cigarra." (Clica em cima da imagem para ler o texto.)



(Uma curiosidade: li essa matéria numa edição em papel da revista, e esta página está ausente da bela digitalização de todas as edições do Jornal das Moças, que pode ser consultada aqui.)

Não vou colocar aqui essas gravações, que você já deve (ou deveria!) ter e são fáceis de encontrar até em CD. Mas tenho algo mais raro: o compacto promocional de lançamento do selo, "Eu Sou O Disquinho", usando outra nova tecnologia: vozes e instrumentos com velocidade dobrada.

http://www.4shared.com/audio/bZ_Q8pq5/eu_sou_o_disquinho_-_1960.html

UMA ELEIÇÃO É PRA ISSO

Nestas eleições notei um detalhe: salvo engano, nunca houve tantos candidatos músicos (ou, conforme o caso, tantos músicos candidatos), e de vários gêneros: populares como Moacyr Franco, chiques como Juca Chaves, popularzões como Tiririca e até vanguardistas como Jorge Antunes. Isso me inspirou a montar uma coletaneazinha com gravações de jingles e spots políticos interpretados por celebridades brasileiras de minha coleção de vinis, 78s, flexidiscs e acetatos (alguns eu toquei no Rádio Matraca, outros não. Colecione todos!)

Talvez o rei do jingle político no Brasil tenha sido Miguel Gustavo(1922/1972); certamente, ele deixou inúmeros, gravados por intérpretes os mais diversos. Um deles foi “Plebiscito”, justamente para (no caso, avacalhando) um dos ocasionais plebiscitos que tentam substituir o presidencialismo pelo parlamentarismo; este no caso é o de 1961, e ouviremos as interpretações da já veterana Nora Ney e de uma novata de futuro, Elza Soares. Também de Miguel Gustavo, mas de 1971-2, são "Brasil, Eu Adoro Você" (cantado por Ângela Maria), "Semana Do Exército" (Trio Ternura), "Semana Da Pátria" (uma das últimas gravações de Cyro Monteiro) e “Olimpíada do Exército” (tendo Clara Nunes sido obrigada a gravar este jingle pelo governo militar como castigo por ter gravado a proibida “Apesar de Você” de Chico Buarque).

Não de Miguel Gustavo, mas no mesmo clima ufanista, são as interpretações do Hino Nacional por Roberto Carlos e Elis Regina para comemorar o sesquicentenário da independência em 1972. Hoje sabemos que Elis interpretou este comercial totalmente contra sua vontade, como castigo - pois é, mais uma dos vingativos milicos - por ter se referido a eles como "gorilas" (ainda bem que estes não revidaram a ofensa - os gorilas, claro).

Menos conhecida, mas ainda em atividade e que merece ser bem mais conhecida é a compositora e cantora Sonya Prazeres (que me honro em ter como companheira no Clube Caiubi de Compositores). Em 1970 ela emplacou canções em trilhas de telenovelas da Globo e estes três jingles para a grande novidade que foi o Mobral.

Temos ainda o imbatível Luiz Gonzaga, que gravava jingles para quem pedisse, fosse situação ou oposição; um deles foi “Luiz Gonzaga Está Com JB”, referindo-se a José Bonifácio Coutinho Nogueira, candidato de Carvalho Pinto ao Governo de São Paulo em 1962. E Chico Buarque apoiou a campanha de Fernando Henrique Cardoso para senador com "Vai Ganhar", paródia de sua própria "Vai Passar".

Poucos devem ter ganho mais jingles no atacado que Adhemar de Barros pai em sua campaha para a Presidência em 1949; aqui temos três. Dois são compostos por Herivelto Martins e Benedito Lacerda e têm participação explícita do grupo vocal Três Marias e do trombonista Raul de Barros e interpretação mais sutil de Florinda Alves e Quincas Gonçalves - na verdade Aracy de Almeida e Nelson Gonçalves sob pseudônimos. E assim como Datena pode parecer uma das muitas siglas por aí mas não é, idem Sivan - nada a ver com Sistema de Vigilância da Amazônia, e sim o compositor Sivan Castelo Neto (1904/1984), que vigiou o Brasil inteiro com canções de sucesso como "Se Ela Perguntar" e "Tema Do Boneco De Palha" e jingles como este "Adhemar Presidente". Ah, sim: Adoniran Barbosa só não entrou nesta coletaneazinha por ter se recusado a compor um samba para esta campanha de Adhemar, com um bom cachê e tudo.

http://www.4shared.com/file/LuFXVobM/jingles_politicos_brasileiros_.html